Este blog foi criado pelas alunas do Curso de Extensão Mediadores de Leitura na Bibliodiversidade- EAD-UFRGS. Os componentes são Joanesilda Stuker de Vargas, Mara Christiane Gonzatto Schmitt, Rosângela Schroer Becker, Nara Christina Gonzatto de Oliveira, Aline Costa. Pólo Três de Maio- RS.

Educação

“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem."Paulo Freire

terça-feira, 26 de abril de 2011

"A Língua de Eulália"-Marcos Bagno

O livro de Marcos Bagno conta a história de três professoras e estudantes universitárias que visitam a tia de uma delas, chamada Irene. Esta mora em uma fazenda em Atibaia e é professora universitária já aposentada, de Língua Portuguesa e Linguística.
No capítulo "Que língua é essa?", Irene dá aulas de Língua Portuguesa para as estudantes. Segundo essa personagem, existe o "mito de unidade linguística do Brasil", que aprendemos nas escolas, de que no Brasil só se fala o português. Essa ideia é falsa, sem correspondência na realidade, já que, mesmo sendo a minoria da população, existem outras línguas que são faladas por nações indígenas espalhadas em diversas partes do país e por imigrantes estrangeiros que mantém viva a língua de seus ancestrais.
Não existe nenhuma língua que seja uma só. O que chamamos de "português" não é um bloco compacto, sólido, e sim um conjunto de coisas chamadas de variedades, diz Irene. Também compara o modo de falar do português com o modo de falar do brasileiro e suas diferenças fonéticas, sintáticas, lexicais, semânticas e no uso da língua. Outras diferenças também existem em grau menor entre o português falado no Norte-Nordeste e o falado no Centro-Sul. Além das variedades geográficas, existem as variedades de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais, etc. Se quisermos ser mais exatos na hora de dar nome a uma língua, teríamos que levar em conta todas essas variáveis. É como se cada pessoa falasse uma língua.
Afirma Irene, ainda, que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo (diacrônica) e varia no espaço (diatópica). Muda com o tempo, porque a língua que falamos hoje no Brasil não é a mesma do início da colonização e provavelmente também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos. E é por isso que não existe a língua portuguesa: o que existe é a norma-padrão, que é aquele modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquela que deve ser ensinada e aprendida na escola. Essa norma, ao longo do tempo, se torna objeto de um grande investimento. No processo de cristalização da norma-padrão, a língua é analisada pelos gramáticos; definida pelos dicionários; imposta por decreto-lei pela Academia de Letras e divulgada pelos autores de livros didáticos. Por isso é que a norma-padrão parece ser mais rica, mais complexa que as demais variedades. Mas se esse investimento fosse aplicado a qualquer uma das variedades faladas no país, ela também enriqueceria e se tornaria o que se costuma chamar de "língua culta".
Irene continua explicando que, no momento que se estabelece uma norma padrão, ela ganha tanta importância que todas as demais variedades são consideradas "impróprias", "erradas" e "feias". Os motivos que levam determinada variedade a servir de base para o padrão não têm nada a ver com as qualidades intrínsecas, internas, linguísticas dessas variedades e sim por motivos históricos, econômicos e culturais.
Como podemos ver, trata-se de um problema amplo e complexo que passa pela transformação radical do tipo de sociedade em que vivemos. Se conhecêssemos melhor o português não-padrão, talvez conseguíssemos identificar as diferenças que o distinguem do português padrão. Irene diz que o Português não-padrão (PNP) deve ser encarado como aquilo que ele realmente é: uma língua bem organizada, coerente e funcional.
Ensina ainda que a noção de "erro" deve ser reservada para problemas individuais. Se alguém, ao invés de dizer cavalo diz cafalo estará cometendo um erro, porque essa palavra não faz parte do registro de variedade do português do Brasil. Porém, se disser pranta no lugar de planta não é um erro, esse é um fenômeno chamado de rotacismo, que acontece em diversas regiões do país e que participou da formação da língua portuguesa padrão ao longo dos séculos. Para chegar a tal constatação deve-se: comparar o PNP com outras línguas e mostrar que nelas também ocorreram fenômenos semelhantes; buscar na história da própria norma-padrão as explicações para determinar características que aparentemente são exclusivas do PNP. Da mesma maneira que o latim se transformou lentamente nas diversas línguas românicas hoje existentes, também cada uma delas continua se transformando.
Irene afirma que a diferença do português-padrão para o português não-padrão é que este é: natural, transmitido, apreendido, funcional, inovador, tem tradição oral, estigmatizado, marginal, tem tendências livres e é falado pelas classes dominadas. Já o português padrão é: arbitrário, adquirido, aprendido, redundante, conservador, tem uma tradição escrita, é prestigiado, é oficial.
Segundo Irene, existem muito mais semelhanças do que diferenças entre as variedades, porém as pessoas escolarizadas não enfatizam as diferenças linguísticas, mas sim as diferenças sociais. Daí nasce o preconceito linguístico.
Finalmente, Irene diz que por mais que sejam refreadas, as forças de mudanças internas da língua nunca param de agir; e conta que foi do latim vulgar que surgiu, com o passar do tempo, todas as línguas românicas.
Podemos concluir, feita a leitura do capítulo que essas variedades geográficas, culturais, urbanas, etc. estão intimamente atreladas ao poder socioeconômico. É culto e importante quem sabe a norma-padrão, sem se levar em conta a bagagem de conhecimento e sabedoria, que muitas vezes são abafadas pelo preconceito.
Por esses falantes da variedade serem desconsiderados, por não terem seus direitos linguísticos reconhecidos e sendo obrigados a assimilar uma variedade que é estranha a eles, por nossa escola não conhecer uma multiplicidade de variedades do português e tentar impor a norma-padrão para todos os alunos, sem procurar saber em que medida ela é na prática uma "língua estrangeira", cabe a todos o professores, já que se servem da língua como meio de transmissão dos conteúdos, a transformação do modo de olhar as variedades não-padrão em todos os campos da educação, sendo tarefa de todos e não apenas dos professores de língua portuguesa.


Linguagem utilizada em um assalto

sábado, 16 de abril de 2011

Livros-Caetano Veloso

Tropeçavas nos astros desastrada

Quase não tínhamos livros em casa

E a cidade não tinha livraria

Mas os livros que em nossa vida entraram

São como a radiação de um corpo negro

Apontando pra expansão do Universo

Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso

(E, sem dúvida, sobretudo o verso)

É o que pode lançar mundos no mundo

Tropeçavas nos astros desastrada

Sem saber que a ventura e a desventura

Dessa estrada que vai do nada ao nada

São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes

Mas podemos amá-los do amor táctil

Que votamos aos maços de cigarro

Domá-los, cultivá-los em aquários

Em estantes, gaiolas, em fogueiras

Ou lançá-los pra fora das janelas

(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)

Ou – o que é muito pior – por odiarmo-los

Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas

E de mais confusão as prateleiras

Tropeçavas nos astros desastrada

Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas

Livros, de Caetano Veloso

domingo, 10 de abril de 2011

Vamos voar nas asas da imaginação!

Quando realizamos uma leitura, não apenas decodificamos os símbolos das letras, mas atribuímos significados a partir da nossa realidade, vivências e de tudo o que nos rodeia.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poesia...

TEM TUDO A VER

A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
- é só abrir os olhos e ver –
tem tudo a ver
com tudo.

Elias José